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   LITUANOS NO BRASIL



Os imigrantes:

A vinda de imigrantes para o Brasil, ressalvada a presença dos portugueses, colonizadores do País, delineia-se a partir da abertura dos portos às "nações amigas" (1808) e da independência do País (1822). À margem dos deslocamentos populacionais voluntários, cabe lembrar que milhões de negros foram obrigados a cruzar o oceano Atlântico, ao longo dos séculos XVI a XIX, com destino ao Brasil, constituindo a mão-de-obra escrava. Os monarcas brasileiros trataram de atrair imigrantes para a região sul do País, oferecendo-lhes lotes de terra para que se estabelecessem como pequenos proprietários agrícolas. Vieram primeiro os alemães e, a partir de 1870, os italianos, duas etnias que se tornaram majoritárias nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Entretanto, a grande leva imigratória começou em meados de 1880, com características bem diversas das acima apontadas.

A principal região de atração passou a ser o estado de São Paulo e os objetivos básicos da política imigratória mudaram. Já não se cogitava de atrair famílias que se convertessem em pequenos proprietários, mas de obter braços para a lavoura do café, em plena expansão em São Paulo. A opção pela imigração em massa foi a forma de se substituir o trabalhador negro escravo, diante da crise do sistema escravista e da abolição da escravatura (1888). Ao mesmo tempo, essa opção se inseria no quadro de um enorme deslocamento transoceânico de populações que ocorreu em toda a Europa, a partir de meados do século XIX, perdurando até o início da Primeira Guerra Mundial. A vaga imigratória foi impulsionada, de um lado, pelas transformações sócio-econômicas que estavam ocorrendo em alguns países da Europa e, de outro, pela maior facilidade dos transportes, advinda da generalização da navegação a vapor e do barateamento das passagens. A partir das primeiras levas, a imigração em cadeia, ou seja, a atração exercida por pessoas estabelecidas nas novas terras, chamando familiares ou amigos, desempenhou papel relevante. Nas Américas, pela ordem, os Estados Unidos, a Argentina e o Brasil foram os principais países receptores de imigrantes.


No caso brasileiro, os dados indicam que em torno de 4,5 milhões de pessoas imigraram para o país entre 1882 e 1934. Destes, 2,3 milhões entraram no estado de São Paulo como passageiros de terceira classe, pelo porto de Santos, não estando, pois, aí incluídas entradas sob outra condição. É necessário ressalvar, porém, que, em certas épocas, foi grande o número de retornados. Em São Paulo, por exemplo, no período de crise cafeeira, (1903-1904), a migração líquida chegou a ser negativa. Um dos traços distintivos da imigração para São Paulo, até 1927, foi o fato de ter sido em muitos casos subsidiada, sobretudo nos primeiros tempos, ao contrário do que sucedeu nos Estados Unidos e, até certo ponto, na Argentina. O subsídio consistiu no fornecimento de passagem marítima para o grupo familiar e transporte para as fazendas e foi uma forma de atrair imigrantes pobres para um país cujo clima e condições sanitárias não eram atraentes. A partir dos anos 30, a imigração em massa cedeu terreno. A política nacionalista de alguns países europeus, caso típico da Itália após a ascensão de Mussolini, tendeu a colocar obstáculos à imigração para a América Latina. No Brasil, a demanda de força de trabalho, necessária para o desenvolvimento industrial, passou a ser suprida, cada vez mais, pelas migrações internas. Habitantes do Nordeste do País e do estado de Minas Gerais abandonaram suas regiões em busca do "El Dorado paulista". Na década de 30, somente os japoneses, ligados à pequena propriedade agrícola, continuaram a vir em grande número para São Paulo. Em anos mais recentes, a imigração para o Brasil, qualitativamente, diversificou-se bastante. Novas etnias se juntaram às mais antigas, como é o caso da imigração de países vizinhos, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia etc., tanto por razões profissionais como políticas. Coreanos passaram a compor a paisagem da cidade de São Paulo, multiplicando restaurantes e confecções. Após os primeiros anos de dificuldades extremas, que não foram muito diversas das que atravessaram em outros países, os imigrantes acabaram por se integrar à sociedade brasileira. Em sua grande maioria, ascenderam socialmente, mudando a paisagem sócio-econômica e cultural do Centro-sul do Brasil. No Sul, vincularam-se à produção do trigo, do vinho, e às atividades industriais; em São Paulo, impulsionaram o desenvolvimento industrial e o comércio. Nessas regiões, transformaram também a paisagem cultural, valorizando a ética do trabalho, introduzindo novos padrões alimentares e modificações na língua portuguesa, que ganhou palavras novas e um sotaque particular. Os imigrantes europeus, do Oriente Médio e asiáticos influenciaram a formação étnica do povo brasileiro, sobretudo na região Centro-sul e Sul do País. Tendo em conta as contribuições de índios e negros, disso resultou uma população etnicamente diversificada, cujos valores e percepções variam de um segmento a outro, no âmbito de uma nacionalidade comum.


Os Lituanos no Brasil:

A presença de povos oriundos da região do Báltico e dos Bálcãs no Brasil é pouco conhecida e divulgada entre nós. Acreditamos que essa aparente falta de interesse pelo tema esteja ligada ao fato de a imigração lituana para o país, bem como a de letonianos, estonianos, sérvios, croatas, entre outros, ter sido numericamente inexpressiva.

O primeiro registro da presença de um cidadão lituano no Brasil data de 1886. Trata-se do coronel Andrius Visteliauskas, que auxiliou o Exército Brasileiro durante a Guerra do Paraguai. O primeiro grupo de lituanos chegou ao Brasil entre 1888 e 1890. Esse grupo dirigiu-se para o Rio Grande do Sul, tendo ido ao interior do estado para, provavelmente, construir a malha ferroviária. Não há dados precisos acerca do número de imigrantes entrados nesse período. Algumas fontes mencionam que entre 800 e 900 pessoas tenham chegado ao país até 1913 e que a maioria dos lituanos se dirigiu para a América do Norte.

Ainda de acordo com essas mesmas fontes, a imigração do final do século XIX era constituída por três grupos distintos: imigrantes vindos diretamente da Lituânia; lituanos que estavam exilados na Sibéria ( após o levante de 1863 contra o czar ) e, da Rússia, emigraram para o Brasil e, finalmente, imigrantes que foram ludibriados, pois haviam contratado transporte para a América do Norte e foram trazidos para a América do Sul. Esse foi o caso de Jonas Maciulevicius, fundador da colônia lituana na cidade de Floresta, Rio Grande do Sul. Não querendo servir o exército russo preparou secretamente sua fuga para a América do Norte. Após 30 dias de viagem, aportou, para sua surpresa, em terras brasileiras.

Os lituanos no Rio Grande do Sul integraram colônias formadas por grupos majoritários de poloneses, russos, italianos e alemães. A colônia de Ijuí, por exemplo, além de portugueses, espanhóis, franceses, árabes, gregos, brasileiros mulatos e bugres (índios) recebeu famílias de imigrantes de mais de 19 nacionalidades: 500 polonesas, 30 lituanas, 20 rutenas, 10 tchecas, 200 alemãs, 100 austríacas, 100 italianas, 50 suecas.


Em 1923, após uma bem sucedida divulgação feita por agentes brasileiros na Lituânia, que o país atraiu uma leva maior de cidadãos lituanos interessados em emigrar. De acordo com os registros do governo brasileiro, 6 mil imigrantes chegaram a São Paulo nessa época, para trabalhar na lavoura do interior do Estado, principalmente nas cidades de Ribeirão Preto, Araraquara, Colina e Barão de Antonina. Vieram atraídos pelas promessas de trabalho e de terras baratas para cultivo.
AraraquaraSanto Anastácio
O estado do Rio de Janeiro também recebeu algumas centenas de lituanos, vindos a partir de 1926. Ali, instalaram-se no município de Caxias e, principalmente, na então Capital Federal. Dedicaram-se ao comércio, à indústria e à arte. A primeira fábrica de calçados da região foi criada por Petras Jonusis, que ali se estabeleceu em 1929. Ele foi "o pioneiro no ramo de calçados populares, produzindo-os de pneus usados" [...] "O seu exemplo, entretanto, foi seguido pelos irmãos Girniai. Surgiram nos anos seguintes mais cinco fábricas do gênero. Pranas Dutkus, introduziu a fabricação e venda de sorvetes, no qual foi imitado por outros. E assim foram fundados bares, restaurantes, fábricas, mercearias, foto-estúdios etc."

Ali a comunidade teve um certo crescimento por causa da vinda de lituanos de São Paulo para o Rio de Janeiro, no desenrolar da Revolução de 1932. Nesse Estado criaram a L.S.B. Vilnis (Sociedade Cultural e Beneficente), em 1934. Após 1940, devido às restrições impostas aos estrangeiros por Vargas, e também em reflexo da ocupação soviética da Lituânia em 1944, a comunidade entrou em declínio.


Os Lituanos em São Paulo:

A imigração lituana para o estado de São Paulo ocorreu em três fases: a primeira, de 1926 a 1929, era composta basicamente por camponeses; a segunda, em meados dos anos 1930, trouxe imigrantes com características urbanas, constituídas de operários e trabalhadores com alguma qualificação profissional; a terceira, ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, fugindo do regime comunista da União Soviética.


Colina
É uma tarefa difícil precisar o número de lituanos que entraram no estado de São Paulo. Muitos imigrantes lituanos entraram no país com documentação russa ou de outra nacionalidade. Estima-se que entre os anos de 1926 e 1938, cerca de 48 mil lituanos emigraram legalmente para o Brasil, concentrando-se, em sua maioria, no Estado de São Paulo, e em pequena porcentagem no Rio de Janeiro.

A maioria dos lituanos entrados em 1926, 1927, 1928 foram trabalhar nas fazendas de café, algodão e cana-de-açúcar. O transporte gratuito e a propaganda feita por agentes das companhias de navegação, com promessas de que no Brasil receberiam bons salários e terras para o seu estabelecimento, foram fortes atrativos para esses imigrantes, apesar de preferirem emigrar para a América do Norte.

A maioria dos lituanos vindos naquele período acabou abandonando ou fugindo das fazendas de café em busca de trabalho na indústria paulista, empolgados com as notícias que recebiam daqueles que residiam em São Paulo.

Na capital tornaram-se operários em indústrias como Antártica, Cotonifício Crespi, Indústria Matarazzo, Fundição Brasil - todas na Mooca, foram ferramenteiros e mecânicos nas indústrias do ABC, principalmente na GM, costureiras, auxiliares de alfaiates, abriram bar, padaria, etc.; trabalharam, também, na construção da Estrada de Ferro Sorocabana.


Vila Zelina: uma Lituânia na Zona Leste da cidade:

Naquela época, os lituanos que se concentravam na Mooca, Bom Retiro, Vila Anastácio, Vila Bela, Santo André reuniam-se na igreja Santo Antonio do Pari, onde as celebrações religiosas eram realizadas pelo padre Benediktas Sugintas. Padre Bento, como era chamado, chegou em 28 de janeiro de 1931, com 36 anos de idade, vindo a se instalar nessa igreja. Conseguiu arregimentar a comunidade para construir a primeira igreja da comunidade lituana em São Paulo, registrando em 17 de outubro de 1931, sob o número 323, no 1º Registro de Títulos e Documentos, o estatuto da Comunidade Lituana Católica Romana de São José.
A chegada de famílias lituanas à Vila Zelina teve início em 1927. Nessa época, a Cia. Terrenos Vila Zelina já tinha arruado a gleba e começado a lotear os terrenos já demarcados, o que motivou a construção da igreja de São José, e em torno da qual se organizou e se manteve uma boa parcela desse grupo étnico.
Em 9 de fevereiro de 1936, o padre Sugintas celebrou a última missa na capela da Escola Lituana de Vila Bela. Em seguida, os fiéis em procissão trouxeram os objetos litúrgicos e paramentos para a nova igreja.



Kunigas Benediktas Sugintas (1933)

Construção da Igreja São José de V. Zelina


Igreja São José de Vila Zelina:

Assim, a igreja São José de Vila Zelina, foi inaugurada em 16 de fevereiro de 1936, data da independência da Lituânia, com a presença do bispo dom José Gaspar de Afonseca e Silva, no prazo previsto, pois a construção iniciou-se logo depois da doação em 1934. A igreja foi consagrada paróquia em 25 de janeiro de 1940.
Em fotos antigas pode-se ver que a igreja ficou um bom tempo com o piso só no cimento e as paredes totalmente nuas. Posteriormente havia pinturas que, infelizmente ficaram escondidas por demãos de tinta. O altar central foi retirado devido à ação de cupins. Também havia dois altares laterais: um do lado direito de quem entra, altar de Nossa Senhora e outro, do lado esquerdo, de Santo Antonio, na parte anterior da atual capela do Santíssimo. Dizem que um dos altares laterais foi doado pelo então político Ademar de Barros. A mesa da comunhão foi feita por Petras Simonis, profissional de execução de trabalhos em madeira.
As pinturas remanescentes, no teto da igreja são do artista lituano Antanas Navickas, imigrante lituano de pós segunda guerra. A Descida da Cruz, a Última Ceia, os Apóstolos nos Campos de Trigo e Nossa Senhora de Siluva, na parte central do teto, são expressões de sua arte. A aparição de Nossa Senhora de Siluva, na Lituânia, foi em 1608 – a primeira aparição na Europa. Conta a história que esta aparição evitou que o protestantismo, em franca propagação na Europa, entrasse na Lituânia. Na lateral direita há o quadro de Nossa Senhora de Aušros Vartai – Porta da Aurora, cuja capela está sobre um dos pórticos medievais da capital da Lituânia, Vilnius. Na lateral esquerda está o quadro de São Casimiro, pintado pela artista Dal. São Casimiro (1458-1484), padroeiro da Lituânia, é um príncipe lituano que abdicou dos luxos da corte e prazeres do mundo e optou por riquezas espirituais. Tinha grande devoção a Nossa Senhora. Morreu jovem, modelo de virtudes, é também padroeiro da juventude lituana. As estações da Via Sacra, nas paredes da igreja, são da artista plástica Gracie, que morou e deu aulas de pinturas no bairro.
Os vitrais, de cores vivas e marcantes remetem à devoção e religiosidade lituana e brasileira. No lado direito, São Casimiro, com Nossa Senhora da Porta da Aurora, no lado esquerdo do vitral; Santa Ana e Nossa Senhora Menina. Santa Ana tem grande devoção na Lituânia. Em seguida, Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil e o Cristo Redentor, grande símbolo da religiosidade brasileira, mundialmente conhecido. Depois Santa Cecília, padroeira da música e ao seu lado, o vitral de São Miguel Arcanjo. Em seguida o encontro da cruz por Santa Helena e por fim, um vitral de Nossa Senhora, infelizmente esmaecido, com uma capelinha rural da Lituânia, baseado em pintura da artista lituana Vlada Stancikaite Abraitiene que morou em Vila Zelina. No lado esquerdo estão os vitrais da Anunciação, do Nascimento de Jesus, da Fuga para o Egito, da Sagrada Família em Nazaré, do Batismo de Jesus e de Jesus entregando as chaves da Igreja para São Pedro, de Sta. Margarida de Alacoque e infelizmente, também esmaecido, o vitral do papa João XXIII, recentemente canonizado.
A igreja ainda conta com um órgão de grande potência musical.
No lado esquerdo do adro da igreja havia uma cruz em estilo lituano que sofreu a ação do tempo e de cupins e atualmente está em reforma.


SAJUNGA - Aliança Lituano-Brasileira de Beneficência e Assistência Social:

A maior leva que emigrou da Lituânia para o Brasil aconteceu em 1926 para o trabalho nos cafezais, algodoais e outras culturas tropicais no Estado de São Paulo.
Apesar das dificuldades encontradas pelos pioneiros não acostumados ao clima tropical e sem o conhecimento da língua eles passaram a se sentir amparados espiritualmente com a chegada do padre Jeronimas Valaitis.
O primeiro cônsul, o diplomata Dr. Petras Mačiulis montou o Consulado na cidade de São Paulo em 1929 e convocou os patrícios mais letrados e representantes de associações da colônia para uma assembleia no dia 03 de novembro de 1931 para fundar uma associação definitiva. Visava congregar as associações e, também, desenvolver as escolas lituanas que funcionavam de forma precária em casas alugadas.
Participaram desta primeira assembleia, além do Cônsul, Gaurilius pela Cooperativa Jornalística Šviesa, o padre Sugintas o novo pároco dos lituanos, Januškis e Bacevičius pela Associação Esportiva Lithuania, Sr. Vinkauskas pelo Coral Santa Cecília, Srta. Valiukevičiute representando a Escola Lithuana Dr. Vincas Kudirka da Mooca, Prof. Gaigalas representando a Escola Lithuana Dr. Jonas Basanavičius da Vila Anastácio, Čemarka e senhora ambos representando a Escola Lithuana Bispo Motiejus Valančius do Bom Retiro.
Nascia a Brazilijos Lietuvių Sajunga [Alliança dos Lituanos do Brasil] e registrada de conformidade com a legislação brasileira em novembro deste mesmo ano como Alliança Autoprotectora dos Lithuanos no Brazil.
As escolas que funcionavam de forma independente passaram para a administração da Alliança.No final de 1931 eram as seguintes: Escola Lithuana Dr. Vincas Kudirka na Mooca. Escola Lithuana Dr. Jonas Basanavičius na Vila Anastácio. Escola Lithuana Bispo Motiejus Valančius no Bom Retiro. Escola Lithuana D. L. K. Vytautas na Vila Bela. Escola Lithuana Maironis no Parque das Nações no Município de Santo André.
Em 1936 o centro da comunidade lituana foi se incrementado mais notadamente na zona leste da capital, na Mooca, Vila Zelina, Vila Bela e Moinho Velho. São Caetano e Santo André, devido à aproximidade da Escola Lituana da Vila Bela e a inauguração da Igreja na Vila Zelina.
Os reflexos da Segunda Guerra Mundial.
Com a ameaça da Segunda Grande Guerra Mundial o governo brasileiro acirrou a vigilância aos estrangeiros e restringiu o ensino das línguas estrangeiras para as crianças.
A Aliança, como todas as associações de imigrantes passou por sérias dificuldades antes, durante, e logo após a guerra.
A crise forçou a venda de imóveis para cobrir despesas de melhoramentos das escolas e para honrar as indenizações aos professores dispensados com o fechamento das escolas devido às novas leis trabalhistas.
Em 1942 foi vendido o terreno da Vila Lúcia. Em 1943 foi vendido o imóvel do Bom Retiro. Em 1948 chegou a vez do prédio do Parque das Nações em Santo André.
A chegada dos deslocados lituanos da guerra em 1947-48 serviu para dar novo impulso à Aliança.
Duas décadas conturbadas.
Foram duas décadas muito conturbadas para as diretorias da Aliança. Em 1963, o presidente e o tesoureiro da então Aliança Autoprotetora de Beneficência dos Lituanos no Brasil outorgaram uma Escritura de Empréstimo em Comodato por 30 anos [prorrogáveis] à Missão da Ordem dos Jesuítas Lituanos no Brasil. O contrato foi anulado pela justiça seis anos depois, em 1969.
Cerca de 10 anos depois, o administrador do imóvel da Vila Anastácio impetrou uma Ação Ordinária de Usucapião contra a Aliança. Não conseguiu usucapir e o processo foi encerrado no ano seguinte. Foram quase duas décadas seguidas em que a administração da Alliança teve que se desdobrar e pugnar na justiça para conservar o seu patrimônio.
A Sajunga-Aliança contemporânea.
Ao raiar o ano de 1988 tiveram início manifestações contra o regime soviético na Lituânia que culminaria com a desvinculação da União Soviética pelo Ato de 11 de março de 1990.
Obedecendo às normas da nova legislação do Código Civil de 2004 os estatutos foram reformulados e a razão social foi alterada para Aliança Lituano-Brasileira Sajunga, e adotou Sajunga-Aliança como nome de fantasia para diferir de outras sajungas. Aberta ao diálogo, franca e pronta para cooperar para a preservação dos costumes, da cultura e das tradições da Lituânia, a Sajunga-Aliança apoiou o lançamento de livros sobre os imigrantes e recepcionou personalidades importantes desde a sua fundação, entre eles o General Vladas Nagius-Nagevičius e o Presidente da Lituânia Algirdas Brazauskas.
A Sajunga-Aliança em 2014.
Com o fim das atividades da comunidade lituana na Vila Anastácio devido às dificuldades de administração, o imóvel da antiga Escola Lithuana Dr. Jonas Basanavicius foi vendido em 2011 e o numerário foi aplicado na reforma do imóvel da Mooca.
Hoje, a Sajunga-Aliança está bem estruturada numa sede moderna confortável, acolhedora, atualizada às necessidades e digna de orgulho dos lituanos, dos litu-brasileiros e dos frequentadores da nossa comunidade.

Texto: Jonas Jakatanvisky


A Pátria Revivida:

Depois do trabalho, os lituanos mais antigos e também os jovens que integravam o Clube Atlético Lituânia, reuniam-se para tocar e cantar canções da terra distante e beber uma cerveja no "Bar do Vito", de Vytautas Tijunelis, localizado na av. Zelina, n. 851, próximo à igreja. Com o falecimento de Vytautas, seu filho Fernando Tijunelis, que trabalhou com o pai desde os seus 8 anos, assumiu o negócio do pai. O bar mantém ainda os mesmos balcões de mármore e as mesmas prateleiras de madeira maciça, feitos por um imigrante lituano. Continua sendo um ponto de encontro dos homens, mas já sem a presença dos imigrantes mais velhos que foram morrendo.
A maioria dos lituanos concentrou-se no mesmo espaço geográfico o bairro da Vila Zelina, a maioria era cátolica e freqüentava e ainda frequenta a igreja São José. Essa igreja exerceu um papel fundamental para a comunidade, pois tornou-se um espaço para a sociabilidade, onde mantinham seus costumes e tradições e ali também iam para saber notícias de algum parente que estava na Lituânia, ainda sob o controle da União Soviética. Talvez por esses motivos tenha se tornado uma das comunidades mais ativas, dinâmicas, unidas e preocupadas com a manutenção de sua cultura.
Uma vitória da comunidade foi a criação da praça República Lituana, em 1976. Localizada em frente da igreja São José, a praça onde também foi edificado o Monumento à Liberdade, em 1982, um marco comemorativo do cinquentenário da imigração (1926-76), é uma homenagem aos imigrantes e seus descendentes. Nessa praça, realizam todos os anos um ato cívico, precedido de missa e apresentação de danças folclóricas para comemorar o dia da Lituânia, no dia 16 de fevereiro. A rua Monsenhor Pio Ragazinskas, antiga Quarena, localizada na Vila Zelina, homenageia o primeiro pároco da Igreja e a Travessa Lituânia Livre faz referência a Restauração da Independência da Lituânia em 11 de março de 1990.
Mas não são apenas a arquitetura e os nomes de logradouros que comprovam a presença lituana no bairro.
O comércio local era um festival de nomes lituanos: Valiulis, Starkeviciene, Sprindys, Polgrymas, Bareisis e tantos mais. Depois do trabalho, os lituanos mais antigos e também os jovens que integravam o Clube Atlético Lituânia, reuniam-se para tocar e cantar canções da terra distante e beber uma cerveja no "Bar do Vito" ou no bar do “Seu Bruno”, ambos na Av. Zelina. Hoje, o bar do Sr. Bruno fechou e o “Bar do Vito” continua sendo de lituanos, mantém ainda os mesmos balcões de mármore e as mesmas prateleiras de madeira maciça, feitos por um imigrante lituano, mas já sem a presença da família de Vytautas Tijunelis, que vendeu o estabelecimento e sem a presença dos imigrantes mais velhos que falavam e cantavam em lituano.
Lembro-me bem daqueles anos em que os moradores do bairro tinham nomes considerados diferentes e difíceis: Juozas, Ludvikas, Ursula, Estanislau, Demetrius, Romas, Iase, Stefania, Bronius, Galina, Albinas, Alfonsas, Birute, Marichene, Marijonas, Algirdas, Zosia, Eudócia, Vytautas, Helmut, Vincas, Vladislava, Satiko, Ilka, Fusako, Takeshi, Stanislava, Procópio, Mecislavas, Zite, Erna, Rudy, Otto. E os apelidos? Shura, Ancia, Irute, Gene, Onute. Os nomes mais fáceis eram Olga, Wanda, Irena, Nicolau, Aldona, Anastácia, Veronika, Nádia, Catarina... No entanto, todos eram comuns e muitos não eram lituanos. Sinal evidente da presença de outras nacionalidades.


A Imprensa Lituana:

A imprensa lituana é um capítulo à parte na história da imigração para São Paulo. Na capital paulista, foram editados mais de 20 jornais (Pietu Amerikos Lietuviai, Brazilijos Lietuviai, Varpas etc.)

O jornal Musu Lietuva, "Nossa Lituânia" mensalmente distribuído traz notícias políticas, de cultura e de esportes da Lituânia, além de acontecimentos relevantes da colônia. O jornal tem mais de 67 anos de existência - o primeiro número foi impresso em 1948. Editado na língua lituana (com acentos gráficos em consoantes e uma espécie de cedilhas em vogais) apresenta anúncios de casas comerciais e de profissionais liberais da Vila Zelina. A tiragem do jornal atualmente é de 600 exemplares, mas há 30 anos atrás era de 3 mil exemplares. A colônia, como disse o padre Petras, está encolhendo porque os 'modelo 19' estão morrendo.



A Vida Cultural:

Havia na comunidade uma atividade cultural muito intensa que traduzia um forte espírito de lituanidade que tinha como sonho e bandeira a luta pela independência da Lituânia. Realizavam - e ainda realizam - encontros da juventude lituana no âmbito nacional e internacional. Criaram coral, grupo de escoteiros e grupos de danças folclóricas.


A música fazia - e faz - parte deste povo que vivia uma vida simples de camponeses nos centenários vilarejos, às margens de seus milhares de lagos e 722 rios, sendo o maior deles rio Nemunas, com 937 km de extensão. É grande o repertório de canções populares originárias desta região.


Manutenção dos Costumes e Tradições:

Atualmente, as tradições e os costumes lituanos são mantidos pela segunda e terceira gerações de descendentes de lituanos. As principais celebrações religiosas são o Natal, a Páscoa, e a festas para São Casimiro e Nossa Senhora de Siluva realizadas na Igreja de São José de Vila Zelina.



Referências:
Tese de doutorado de Sônia Maria de Freitas:
"Falam os imigrantes: memória e diversidade cultural em São Paulo",
defendida no Departamento de História da FFLCH da Universidade de São Paulo, em abril de 2001.